No próximo sábado, dia 20 de maio, às 8h30min, encontro vai marcar duas décadas e meia do ponto de venda que virou referência em comercialização de produtos livres de agrotóxicos. Para celebrar, haverá degustação de bergamotas, fruta de outono-inverno
Desde maio de 1998, as manhãs de sábado têm um sabor especial que mistura cuidado, saúde, trabalho e dedicação, levados das pequenas propriedades dos agricultores ecológicos da região à mesa dos caxienses pelos alimentos orgânicos da Feira Ecológica de Caxias do Sul. Essa história de compartilhamento de cuidados já percorreu 25 anos e, no próximo sábado, dia 20 de maio, será celebrada com um encontro para reunir feirantes, clientes e a comunidade em geral.
A cerimônia de celebração dos 25 anos da Feira Ecológica ocorre a partir das 8h30min, na Praça das Feiras, no bairro São Pelegrino, e contará com a presença e os pronunciamentos do Frei Jaime Bettega, que fará a benção do encontro, dos representantes do grupo de Coordenação de Feira, dos fundadores, de cliente e de representantes da Prefeitura Municipal.
Ainda no sábado, logo após a solenidade, haverá degustação de bergamotas. Os agricultores das bancas das cooperativas Ecocitrus, de Montenegro, e Ecomorango, de Bom Princípio, irão ofertar a fruta aos clientes e amigos da feira. Será uma amostra da colheita da produção ecológica das famílias agricultoras do Vale do Caí, a região que mais produz citros no Estado, em especial a bergamota.
Para além dos atos de celebração das duas décadas e meia, o encontro vai comemorar ainda o trabalho dos agricultores que, desde 1998, foram pioneiros em estabelecer um local para a comercialização de alimentos orgânicos.
“A feira possibilita que a produção da agricultura orgânica seja ofertada diretamente aos consumidores, sem um intermediário. Cria, assim, uma relação entre os próprios agricultores e os clientes. O que é um diferencial em relação à compra no mercado tradicional”, contextualiza Alexandre Reche, agricultor que integra a comissão de coordenação da Feira.
A comercialização pelos agricultores ecológicos ocorre em dois espaços: aos sábados, na Praça das Feiras, no Bairro São Pelegrino e, nas quartas-feiras, na Rua Santos Dumont, no bairro Exposição.
Atualmente, aos sábados, 23 bancas realizam a venda da produção da agricultura familiar de diferentes municípios da região: Antônio Prado, Bom Princípio, Caxias do Sul, Farroupilha, Feliz, Flores da Cunha, Ipê, Nova Petrópolis, Nova Roma do Sul, Montenegro e Morrinhos do Sul. Nas quartas-feiras, o ponto de venda de orgânicos é organizado pelos agricultores da Cooperativa Ecomorango, de Bom Princípio.
Para poder comercializar os alimentos da safra na Feira Ecológica, o agricultor precisa ter o certificado da produção orgânica. Atualmente, a maioria das certificações se dá por meio da Rede Ecovida, entidade cadastrada junto ao Ministério da Agricultura. De acordo com Reche, essa certificação é renovada a cada ano e passa pela avaliação da Comissão de Coordenação da Feira. “Comprova que o agricultor tem a liberação para vender seus produtos de maneira adequada”, explica.
Por ofertar alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos e com manejos adequados para a sustentabilidade agrícola, a Feira conta com hortaliças, legumes e frutas saudáveis e colhidos na estação, além de produtos agroindustrializados. A fidelidade à entrega de qualidade aos clientes persegue a feira ao longo de seus 25 anos. Tanto que, em sua história, apenas em um sábado ela parou. Justamente, por causa da pandemia de Covid-19 que obrigou, por causa de decreto legal, o cancelamento de todas as atividades comerciais em Caxias do Sul.
“A história da Feira é marcada pela persistência dos agricultores que mantiveram a determinação e a dedicação por possibilitar um ponto de venda na cidade”, destaca Reche. Ele explica que mesmo com condições climáticas, muitas vezes adversas, o compromisso de montar as bancas aos sábados é reforçado semanalmente.
OS PIONEIROS DA AGROECOLOGIA
A iniciativa por criar uma Feira Ecológica em Caxias do Sul surgiu a partir de um encontro mútuo. De um lado, o interesse do poder público municipal da época e, de outro, os objetivos dos agricultores ecológicos. Na metade da década de 1990, ainda eram poucos os que se dedicavam a um manejo agroecológico. Alguns, porém, perceberam os riscos do uso de agrotóxicos no meio rural, tanto para quem consumia o resultado das safras, quanto para quem tinha que lidar com os produtos químicos.
“Em 1995, mudamos da agricultura química para a ecológica. Era algo que estava matutando em nossas cabeças. A consciência nos acusava que o agrotóxico fazia mal”, sintetiza o agricultor Antonio Rossi.
Após três anos do início da agroecologia na propriedade, iniciada no cultivo da batata, o pai de Antonio, o agricultor Avelino Rossi, resolveu buscar a Secretaria de Agricultura para propor uma forma de vender a produção da propriedade da família, localizada na Linha 40, interior de Caxias do Sul.
“Quando mudamos para a produção ecológica, ficamos alguns anos trabalhando no vermelho. Nossa produção era mais saudável, mas a comercialização era feita com produtos da agricultura convencional”, recorda Antonio, explicando que, embora diferenciados, os legumes, hortaliças e frutas acabavam recebendo a mesma remuneração que os produtos cultivados com aditivos químicos.
A ideia de Avelino foi acolhida pela Secretaria da Agricultura, e a Feira ganhou um espaço: o Largo da Estação Férrea. Também recebeu um dia e horário: sábados pela manhã. A Feira Ecológica surgia, assim, para apoiar um novo momento agrícola que se voltava aos orgânicos e à preocupação com a saúde. Feira Ecológica de Caxias do Sul foi oficializada pelo poder público no dia 9 de maio de 1998.
Juntamente com os Rossi, as famílias de Dervi Brancher e Ari Venturin, também de Caxias do Sul, e de José Tondello e Antônio Tondello, de Antônio Prado, estavam no grupo que começou a iniciativa. Rossi, Brancher e as famílias Tondello permanecem até hoje na Feira Ecológica.
Em 2016, com a criação da Praça das Feiras, o ponto de comercialização ganhou a região entre a Avenida Rio Branco e a Rua Feijó Júnior.
Ao longo de seus 25 anos, a Feira Ecológica mudou, e não foi apenas o local. Ela passou a acolher mais agricultores, que vinham de outros municípios da região. Também ampliou o número de bancas e a variedade de itens. A quantidade se tornou ainda mais atrativa, e a qualidade foi sendo reforçada.
CONFIANÇA QUE VEM DE DÉCADAS
O cliente Francisco Cagliari, de 71 anos, foi um dos primeiros compradores da Feira Ecológica. Ele recorda que, no início, lá em 1998, os pés de alface eram menores – assim como os demais produtos. Com o tempo, porém, eles foram adquirindo maior tamanho. Essa mudança demonstra como a relação da Feira impactou também no modo de produzir, já que possibilitou um mercado na cidade para a produção orgânica e representou rendimentos para que os agricultores pudessem investir em novas alternativas para gerar qualificação à produção sem uso de agrotóxicos.
Cagliari procurou a Feira Ecológica, em 1998, porque sentia que a produção convencional causava mal à saúde dele e da família. Foi numa Romaria da Terra, no interior de Santa Cruz do Sul, que ele soube pelo Padre Schio, religioso incentivador dos pequenos produtores, que o ponto de comercialização de orgânicos seria criado em Caxias do Sul. Nas primeiras semanas de funcionamento da Feira, Cagliari já estava por lá.
A prática se mantém até hoje! Tradicionalmente, os sábados pela manhã são dedicados à ida à Feira, quase sempre acompanhado da mulher, Inês. A rotina desses 25 anos não foi apenas para comprar produtos frescos, saudáveis e de qualidade. O contato semanal com os agricultores se transformou em amizade, compartilhamento de histórias e informações – muitas delas sobre o processo produtivo. A própria agricultura sempre esteve na história de Cagliari, que morava em Fagundes Varela antes de residir em Caxias do Sul, há 51 anos. “Eu saí da roça, mas a roça não saiu de mim”, comenta.
Cagliari é representante de um vínculo constituído e mantido entre os produtores de alimentos orgânicos e os clientes: a confiança. Além de produtos de qualidade e saudáveis, quem passa pela Feira Ecológica encontra afeto, cuidado e responsabilidade com alimentos que saem do interior para as mesas dos caxienses. É, de fato, como se a roça chegasse à casa de cada cliente, mas uma roça que vive de modo sustentável e com consciência ambiental.
DIAS E HORÁRIOS DA FEIRA
A comercialização de alimentos orgânicos pelos agricultores ecológicos ocorre em dois espaços: a Praça das Feiras, no bairro São Pelegrino e na Rua Santos Dumont, no bairro Exposição.
Quarta-feira – das 11h30min às 16h, na Rua Santos Dumont, esquina com a Rua Vereador Mário Pezzi, Bairro Exposição. Ponto de venda de orgânicos com atendimento pelos agricultores da Cooperativa Ecomorango, de Bom Princípio.
Sábado – das 6h30min às 11h30min – na Praça das Feiras (próximo à antiga Estação Férrea), Bairro São Pelegrino. Atendimento em 23 bancas de agricultores de 11 municípios.
SERVIÇO
O quê: Encontro de Celebração dos 25 anos da Feira Ecológica de Caxias do Sul
Quando: Sábado, dia 20 de maio
Horário: 8h30min
Local: Praça das Feiras | Bairro São Pelegrino
Mais informações:
instagram.com/feiraecologicacaxiasdosul/
facebook.com/FeiraEcologica/
Fotos
Imagens da Feira na Praça das Feiras, bairro São Pelegrino
Coordenadores da Feira: os agricultores (na foto, da esquerda para a direita) Alexandre Reche, da banca Floresta Essencial; Maique Kochenborger, da Cooperativa Ecocitrus; Fabiana Tondello, da banca da família Tondello; e Antônio Rossi, da Família Rossi
Crédito – Arquivo Feira Ecológica de Caxias do Sul