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Política

Brasil retoma demarcações de terras indígenas após quatro anos de paralisação

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Governo Lula vai homologar 13 terras indígenas; entenda gargalos e desafios para continuidade das demarcações

O recém-criado Ministério dos Povos Indígenas, sob o comando de Sonia Guajajara (PSOL), pretende encaminhar para conclusão, nos primeiros meses de governo, processos demarcatórios de 13 terras indígenas nas regiões Norte, Nordeste, Centro Oeste e Sul. 

São territórios marcados por conflitos pela posse da terra e que já cumpriram todas as etapas da regularização, livres de entraves judiciais. Aguardavam apenas a homologação por parte do Executivo, até então refém da política anti-indígena do governo de Jair Bolsonaro (PL).  

Na prática, a homologação garante aos povos originários direitos plenos sobre a terra, a posse permanente e o uso exclusivo dos recursos naturais. Também viabilizam o acesso a políticas públicas e têm o potencial de pacificar disputas violentas entre indígenas e não indígenas. 

Confira a lista de áreas a serem homologadas e os municípios:

  • Aldeia Velha em Porto Seguro (BA)
  • Kariri-Xocó em Porto Real do Colégio (AL)
  • Potiguara de Monte-Mor em Rio Tinto (PB)
  • Xukuru-Kariri em Palmeira dos Índios (AL)
  • Tremembé da Barra do Mundaú em Itapipoca (CE)
  • Morro dos Cavalos em Palhoça (SC)
  • Rio dos Índios em Vicente Dutra (RS)
  • Toldo Imbu em Abelardo Luz (SC)
  • Cacique Fontoura em São Félix do Araguaia (MT)
  • Arara do Rio Amônia em Marechal Thaumaturgo (AC)
  • Rio Gregório em Tarauacá (AC)
  • Uneiuxi em Santa Isabel do Rio Negro (AM)
  • Acapuri de Cima em Fonte Boa (AM)

Novo momento dos indígenas na política 

Para esses territórios, os próximos passos são a expulsão de invasores, além do reassentamento e indenização de não indígenas que tenham ocupado de boa fé as áreas demarcadas, como comunidades ribeirinhas e outros habitantes tradicionais dos biomas. 

Especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato afirmam que as homologações inauguram um novo momento da política brasileira e são fruto de um grau sem precedentes de participação dos povos indígenas na atuação do Estado. 

“Essa é um novidade histórica”, avalia Marcio Santilli, fundador do Instituto Socioambiental (ISA) e ativista pelos direitos indígenas há 40 anos.

:: BdF Explica | Por que os povos indígenas acusam Bolsonaro de genocídio ::

“Não é mais uma política indigenista, como no passado. Agora são lideranças indígenas legítimas, reconhecidas no âmbito do movimento indígena, que passam a exercer funções de Estado”, observa Santilli. 

As medidas dão concretude à promessa de campanha feita por Lula de fazer cumprir os direitos constitucionais dos povos indígenas. E são acompanhadas de mudanças importantes na Fundação Nacional do Índio (Funai), que passou a se chamar Fundação Nacional dos Povos Indígenas e, pela primeira vez, é presidida por uma mulher indígena, Joenia Wapichana

Homologações estavam na gaveta de Bolsonaro 

A homologação das 13 terras indígenas havia sido sugerida pela equipe de transição do governo federal. A gestão Bolsonaro foi marcada pela completa paralisação da regularização de terras indígenas, conforme o então candidato havia prometido durante a campanha eleitoral de 2018. 

“O que esses 13 processos estavam fazendo na gaveta que não foram homologados? Isso demonstra um explícito desejo do ex-presidente de descumprir a Constituição. Na verdade, o presidente Lula está retomando o cumprimento dos preceitos constitucionais”, aponta Santilli. 


Sonia Guajajara, Joenia Wapichana e Weibe Tapeba: respectivamente os novos titulares da Funai, do ministério dos Povos Indígenas e da secretaria de Saúde Indígena

:: Primeira semana de Lula lança luz a luta dos povos originários; confira nomeações indígenas ::

As terras indígenas prontas para homologação abrangem, juntas, cerca de 8,4 mil km², o equivalente a mais de cinco vezes a cidade de São Paulo (SP).

Segundo o ISA, 32% das 676 terras indígenas do Brasil ainda não foram homologadas e estão em etapas anteriores do processo demarcatório. 

Novo ministério deve priorizar Guarani Kaiowá, defende indigenista 

“Cada uma das 13 terras indígenas que serão homologadas têm histórico de muita guerra e muita luta”, destaca a antropóloga Barbara Arisi, da Universidade Livre de Amsterdam. 

“A Morro dos Cavalos em Florianópolis (SC), por exemplo, já era pra ter sido demarcada há muitos anos. E o estado de Santa Catarina é extremamente anti-indígena, então tem um significado muito importante”, comemora a indigenista. 

O primeiro esforço demarcatório do governo Lula foi celebrado por Arisi. Mas ela aponta que regiões importantes ficaram de fora, como as terras Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul, que passam por uma escalada de conflitos e mortes de indígenas.

Saiba mais: “Que esse governo retome o que nos pertence”, dizem mulheres Kaiowá e Guarani em carta a Lula

“O Mato Grosso do Sul é uma área de conflito onde eu acho que realmente o Ministério dos Povos Indígenas vai provavelmente colocar toda a sua força para também fazer andar as demarcações e resolver a situação de extrema violência”, diz. 

“Tomara que isso aconteça rápido, antes que os criminosos ambientais se organizem do lado de lá. Os trabalhos de demarcação podem demorar 10, 15, até 20 anos”, ressalta.

Pronta para homologação, área do “marco temporal” ficou de fora 

Clovis Brighenti, indigenista e professor de História das Sociedades Indígenas na América Latina da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), sentiu falta da terra indígena Ibirama La-Klãnõ na lista das primeiras homologações do governo Lula.

Habitada pelos Xokleng, a área é objeto da ação do chamado marco temporal das terras indígenas, julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O julgamento foi adiado pela terceira vez em junho do ano passado.

:: Movimento indígena demanda julgamento do marco temporal: “vai definir o futuro de nossos povos” ::

“Reconhecemos e respeitamos a decisão da comissão de transição que analisou as homologações, mas não há qualquer impedimento legal para a homologação deste território”, diz Brighenti. 

“A decisão [de não homologar a terra indígena Ibirama La-Klãnõ] pode ter levado em consideração o julgamento do marco temporal. Mas teria sido importante ela ter entrado na lista das terras a serem homologadas”, avalia. 

Empecilhos para continuidade das homologações 

O novo governo encontrará desafios significativos para prosseguir com a agenda de regularização de terras indígenas. Muitas delas estão travadas por ações judiciais protocoladas por não indígenas que se concederam legítimos ocupantes das terras. Há inclusive disputas protagonizadas por grades fazendeiros e empresas multinacionais.

Marcio Santilli, do Instituto Socioambiental, sugere um esforço jurídico concentrado por parte da Advocacia-Geral da União, no sentido de destravar as demarcações paralisadas pela Justiça. 

“Mas a verdade é que houve um corpo mole imenso por parte do último governo federal em todos esses níveis. Agora tudo isso pode ser agilizado. É preciso criar instrumentos para poder superar os gargalos que existem dentro dos processos demarcatórios”, afirma. 

:: Dossiê inédito revela como Bolsonaro transformou a Funai em um órgão anti-indígena ::

Outro empecilho a ser superado é a paralisação de estudos demarcatórios conduzidos por grupos de trabalho no âmbito da Funai. O déficit de servidores do órgão indigenista, que atingiu níveis críticos sob Bolsonaro, contribui para a morosidade desses procedimentos. E nem sempre há estudos antropológicos prévios que atestem a presença ancestral indígena. 

“As demarcações são simplesmente estabelecer os limites da terra. Tem toda uma agenda gigante, que é também de alto interesse nacional, que é a gestão desses territórios. Tem muita coisa pela frente para ser feita”, projeta o fundador do ISA. 

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Política

Aeroporto no PAC: “Caxias hoje pode comemorar uma grande conquista”

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Prefeito agradece à articulação de deputada Denise, à SAC e aos técnicos da Seplan pela conquista.

“Caxias hoje pode comemorar uma grande conquista”, com essa frase o Prefeito Adiló Didomenico resume a satisfação ao receber, perto do meio-dia desta terça-feira (06/05), a informação repassada pela deputada federal Denise Pessôa, da oficialização da inclusão do Aeroporto da Serra Gaúcha no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal.

Segundo Adiló, a deputada, que tem sido grande parceira e articuladora de todo esse processo em Brasília, mandou a cópia da publicação do Diário Oficial. “Para aqueles que eventualmente tinham alguma dúvida, esse sonho dos caxienses e da Serra Gaúcha passa a se tornar realidade, tendo o recurso garantido por parte do Governo Federal. O projeto está pronto e em breve estaremos encaminhando para licitação, visto que todo processo vinha desde o início sendo acompanhado pela Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC) a quem também agradecemos a parceria muito estreita. Agradeço também neste momento a todos os nossos técnicos aqui da Secretaria do Planejamento e Parcerias Estratégicas (Seplan). Com o passar dos anos vamos ver a importância dessa obra para Caxias e o Rio Grande do Sul”, destacou.

Próximas etapas:

Paralelo à busca pelos recursos (são R$ 270 milhões – R$ 100 milhões para a construção do terminal de passageiros e R$ 170 milhões para a pista e parte externa), a Prefeitura trabalha na versão final dos projetos de engenharia, que está sendo encaminhada pela Seplan para validação da SAC. “Já iniciamos os uploads no sistema desses arquivos que são muito pesados e complexos, mas acreditamos que até o final desta semana a SAC já pode se apropriar e iniciar a análise. Outra questão são os programas ambientais, precisamos refazer todo conjunto de projetos e na próxima semana já faremos os uploads para que também sejam avaliados pela SAC. Depois disso, a ideia é marcarmos uma agenda na SAC fazer uma discussão, avaliação conjunta, na linha que trabalhamos. É um projeto básico que, após homologado, nos permite fazer licitações que englobarão o projeto executivo, a implentação e gestão dos programas ambientais e de todo ciclo de execução do aeroporto. E ainda outra etapa é sobre a contratação do estudo de arqueologia, cujo contrato deve ser publicado nos próximos dias”, informa Marcus Vinicius Caberlon, titular da Seplan.

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Política

Governo municipal apresenta nova proposta salarial a servidores

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Ícaro de Campos

A Comissão de Negociação do Executivo esteve reunida nesta quarta (23/4) com representantes do Sindiserv para apresentar uma nova proposta referente à reivindicação salarial dos servidores. 

Já havia sido proposto e aprovado pelos servidores a equiparação do vale-refeição (VR) ao dos servidores da Câmara, que tem o valor de R$ 949,52 e valor líquido de R$ 854,57. O reajuste no VR atinge todos os servidores ativos. Hoje, o VR dos servidores da Prefeitura é R$ 854,70 bruto e R$ 769,23 líquido. Ou seja, com a equiparação, haverá o ganho bruto de R$ 94,82 e líquido de R$ 85,34.

Além disso, o Executivo ofereceu a antecipação de 1% da reposição da inflação a partir de junho.

O Sindiserv levará a proposta para avaliação. No final da tarde desta quarta-feira, a categoria esteve reunida no Largo da Prefeitura. Entre outras solicitações da categoria, estão o reajuste salarial de 5,5% e o encaminhamento do projeto e aprovação de uma nova lei municipal que acabe com as distorções salariais criadas pela Lei 409. Os trabalhadores também pedem o fim das terceirizações e das gestões compartilhadas no serviço público.

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Política

Presidente do INSS é exonerado após suspeita de fraudes

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Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A exoneração do presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União desta quarta-feira (23). A portaria é assinada pela ministra substituta da Casa Civil, Miriam Belchior.

Stefanutto é um dos investigados na operação que a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram na manhã de hoje para apurar suspeitas de um esquema de descontos não autorizados nos benefícios de aposentados e pensionistas. A demissão foi determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Procurador federal, Stefanutto ficou à frente da Procuradoria-Federal Especializada junto ao INSS de 2011 a 2017. Em 11 de julho de 2023, assumiu a presidência da autarquia por indicação do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que defendeu hoje o direito de todos os investigados à presunção de inocência.

Operação Sem Desconto investiga um suposto esquema nacional de descontos de mensalidades associativas não autorizadas. Estima-se que cerca de R$ 6,3 bilhões foram descontados de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024

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