Secretaria Municipal de Educação (SMED) desenvolve protocolo específico para identificação e acompanhamento de alunos com capacidades elevadas
Caxias do Sul tem atualmente 31 estudantes na rede municipal de ensino identificados com características de Altas Habilidades ou Superdotação (AH/SD). Outros 15 já estão em investigação pela Secretaria Municipal de Educação (SMED). Os dados foram revelados na manhã desta segunda-feira (7), durante a abertura oficial da 2ª Semana Municipal de Altas Habilidades e Superdotação. Em relação ao ano passado, quando a data foi celebrada pela primeira vez, o contingente praticamente dobrou.
Neste mesmo período, coincidência ou não, também ganharam incremento a atenção e a estrutura dedicadas ao tema pela SMED. Hoje a secretaria conta com duas assessoras de Atendimento Educacional Especializado (AEE) voltadas para o acompanhamento de crianças e estudantes com Altas Habilidades ou Superdotação – além do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que muitas vezes se manifestam em conjunto, o que configura a chamada dupla condicionalidade. As equipes recebem formação continuada e foram constituídos Grupos de Trabalho com o propósito de estabelecer protocolos específicos para ampliar a identificação de traços de AH/SD nos alunos.
“Procuramos desenvolver estratégias para que eles permaneçam na escola e encontrem condições de desenvolver seu potencial, com atividades de contraturno, suplementação e enriquecimento curricular. O principal é buscar visibilidade, para que eles e as famílias possam receber o acompanhamento adequado”, comenta a gerente de Educação Especial da SMED, Silvana Cechinato Cagol.
Além da própria mostra Potência(H)abilidades: um olhar sobre as aptidões dos estudantes com Altas Habilidades instalada no mezanino do Centro Administrativo Municipal até dia 25, que apresenta alguns dos trabalhos realizados pelos estudantes identificados com características de AH/SD na rede municipal, um outro breve exemplo do que a garotada é capaz de entregar com o estímulo conjugado entre família, escola e secretaria foi dado na própria cerimônia que abriu a programação.
Estudante do 2º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Catulo da Paixão Cearense, Ana Helena Corrêa Hübner leu um discurso de própria lavra (elaborado com uma ajudinha da mãe), sem tropeços ou vacilos (embora tenha se descrito como “muito nervosa”), ao lado de uma coleção de autoridades, incluindo a prefeita em exercício do município, Paula Ioris. Ana Helena tem sete anos.
“Minha mãe lia todas as noites para mim, eu tenho um monte de livro, acabei gostando e agora eu leio para a minha irmã [Catarina, dois anos]”, revela a menina, que dominou o alfabeto com um ano e sete meses de idade e lê e escreve corretamente desde os três.
A programação completa da 2ª Semana Municipal de Altas Habilidades e Superdotação pode ser conferida neste link. Também acompanharam a abertura do evento a diretora Pedagógica da SMED, Paula Martinazzo, a vereadora Marisol Santos e o vereador Lucas Diel.
“Um momento como este é de muito orgulho. É importante para conhecer, desenvolver e aprendermos a lidar com estas características da melhor forma possível. É um desafio bom, positivo. O mundo está mudando e estas crianças vieram para nos trazer muitas lições”, afirma a prefeita em exercício Paula Ioris.
Cuidado para avançar cada etapa
Ana Helena Corrêa Hübner se configura em um caso de disparidade entre idade e ano escolar. Só que ao contrário do que habitualmente se verifica entre os estudantes: ela está à frente do programado. Com sete anos, já cursa o 2º ano do ensino fundamental. Foi a medida encontrada por pais, professores e equipe técnica da Secretaria Municipal de Educação (SMED) a fim de não perder as Altas Habilidades da menina para o desestímulo de quem achava o 1º ano muito chato. E detalhe: ela só não está mais adiantada, por cautela no aspecto emocional.
“A Ana foi acompanhada desde cedo, logo que a escola identificou características de Altas Habilidades nela. A escola sempre deu um grande apoio. Nós até desconfiávamos que tinha alguma coisa, mas também achamos que poderia ser aquele olhar de pai e mãe, que sempre acha o filho especial. Uma equipe da SMED veio falar conosco, aplicou alguns testes e ela gabaritou provas de Português e Matemática de anos mais avançados. Então, conversamos bastante, negociamos e, junto com a escola e o pessoal da secretaria, entendemos que ela poderia pular um ano. A transição foi feita com todo cuidado, com muita calma, porque ela mesma tinha muito receio de perder os amigos, e hoje ela está perfeitamente adaptada”, relata a mãe da estudante, a jornalista Josiane Strey Corrêa.
Não é apenas no ensino regular que Ana acelerou o ritmo. No curso de inglês, está frequentando aulas com uma turma três anos mais velha. Tudo é feito com acompanhamento psicológico, há cerca de dois anos.
“Ela sempre foi muito estimulada. E ela nos impõe desafios. Nas explicações, por exemplo. Não basta uma resposta qualquer. A argumentação precisa ser convincente”, observa o pai, o analista de sistemas Alexandre Tomás Hübner.
Como ocorre com a maioria dos pais e mães – tenham eles filhos mais ou menos diferentes dos outros –, o casal se vê diariamente com dúvidas sobre como conduzir o processo. A opção preferida até o momento é a do equilíbrio entre o ritmo acelerado proposto pela menina (que diz que seus livros favoritos são “os de matemática, com contas para resolver”) e o desejo de que Ana não passe pela infância em alta velocidade, sem aproveitar o momento.
“Ela se cobra muito, quer sempre fazer o melhor. De vez em quando, pensa que é professora e tenta dar aula para a irmã mais nova. Então, precisamos convencê-la a brincar. Até no recreio, em que ela queria um caderno para ficar treinando caligrafia”, conta Josiane.
O plano parece ter dado certo. Quando perguntada sobre qual a atividade preferida na escola, Ana responde sem hesitar:
“Educação Física. Porque aí posso brincar com meus colegas.”
Fotos: Natália Silvestre Soares