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Guerra econômica: Rússia contorna sanções do Ocidente ou caminha para crise inevitável?

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Dependência energética da Rússia leva UE a impasse na política de sanções, enquanto Moscou busca parcerias alternativas

Serguei Monin

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

Imagem da moeda de rublo com a cidade de Moscou, capital da Rússia, ao fundo. – Alexander Nemenov / AFP

Desde março, ainda no primeiro mês da Guerra da Ucrânia, países ocidentais aplicam uma política de sanções sem precedentes contra a Rússia, na tentativa de pressionar Moscou a recuar de suas ações em território ucraniano. No que diz respeito aos rumos da operação militar russa, parece ficar cada vez mais claro que as restrições econômicas não tiveram o efeito desejado.

Isso, portanto, coloca a questão de se a Rússia está conseguindo resistir às sanções ou se o país deve se preparar para uma grave crise econômica em um futuro próximo.

Desde o início da guerra na Ucrânia, a Europa busca maneiras de atingir o setor energético russo. Os principais motivos da resistência da economia russa diante dessas sanções são a grande dependência que a União Europeia tem do gás russo e a alta no preço do petróleo.

O presidente russo, Vladimir Putin, declarou na semana passada que a política de “contenção e enfraquecimento da Rússia é uma estratégia de longo prazo do Ocidente, e as sanções deram um duro golpe em toda a economia global”.

“Os europeus estão tentando substituir os recursos energéticos russos, mas o resultado de tais ações é bastante previsível: o aumento do preço à vista do gás e o aumento do preço para consumidores e famílias. Isso demonstra mais uma vez que as sanções contra a Rússia prejudicam mais os países que as implementam”, afirmou.

Passados mais de quatro meses da guerra na Ucrânia, a suspeita de que o Ocidente chegou no limite da pressão que é capaz de exercer contra a Rússia não é mais mera retórica do Kremlin para o consumo interno, algo que pode fazer para sustentar suas operações militares. A ideia de que a União Europeia enfrenta um impasse na guerra econômica contra a Rússia ganha força.

Na última terça-feira (12), um conjunto de economistas da fundação “Expertise, Analysis & Policy Network – Re: Russia” em parceria com o portal “The Bell” publicou o estudo “Efeito da conservação: como as sanções contra a Rússia funcionam e não funcionam”. 

Ali, concluem que “raramente as sanções contra determinado país ajudam a mudar sua política”. De acordo com o texto, “o mundo luta há décadas pela globalização e pela eliminação das barreiras que impediam a circulação de capitais e mercadorias”. E segue: “Por causa disso, as medidas contra uma economia em particular são muitas vezes ‘espalhadas’ para outras”. 

Em entrevista ao Brasil de Fato, o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada da Academia Russa de Economia Nacional, Andrey Zubarev, explicou que a alta dependência energética que a Europa tem da Rússia, combinada com a dinâmica dos preços do petróleo, cria uma espécie de “jogo” em que os efeitos das ações do Ocidente geram um equilíbrio para a balança comercial russa.

“Sim, o Ocidente vai comprar menos petróleo russo, mas todos entendem perfeitamente que se cortarem totalmente a sua compra, o petróleo ficará mais caro. Então [a Rússia] pode vender menos, mas mais caro. E com o gás é a mesma coisa. Por isso, ok, o volume de exportações diminuiu, mas o preço ficou mais alto, sobretudo o gás. Assim, esses efeitos acabam se equilibrando mutuamente. Então foi possível para a Rússia contornar grandes perdas nesse estágio”, destaca o pesquisador.

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O estudo “Efeito da conservação” informa que, em maio, “devido ao aumento dos preços da energia, a inflação anual na zona do euro subiu para 8,1%, e o déficit do comércio exterior da UE atingiu um nível recorde na história da organização, chegando a € 32,4 bilhões”, acrescenta.

Adeus, Europa; reorientação para a Ásia

O primeiro plano concreto para eliminar gradualmente a dependência de combustível russo foi anunciado pela União Europeia em 8 de março. De acordo com o documento, até o final de 2022, a UE deverá reduzir o consumo de gás russo em 67%. Para isso, a estratégia prevê encontrar novos fornecedores e economizar no consumo de combustível.

Já em relação ao petróleo, a organização de Estados se comprometeu a cortar 90% da compra do petróleo russo até o final de 2022. Apesar do volume de exportações do petróleo russo ter caído 15% em junho, estudos mostram que nos 100 primeiros dias após o início da guerra, a Rússia faturou cerca de 93 bilhões de euros com exportações de combustíveis fósseis.

As restrições econômicas fizeram com que a Rússia reorientasse suas exportações para a conquista de novos mercados. Com isso, Moscou aumentou as exportações energéticas para a Índia em cinco vezes entre março e maio, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Já com a China, as exportações de petróleo dobraram no último ano.


Os ministros Serguei Lavrov e Wang Yi afirmaram que relações entre Rússia e China se fortaleceram em meio à “turbulência internacional” / AFP

Para conquistar novos parceiros como a Índia, ou incrementar o comércio com a China, a Rússia ofereceu descontos nas vendas do petróleo de até 30 dólares o barril. Para o economista Andrey Zubarev, esta política comercial tem ajudado o governo russo a contornar as sanções europeias, no entanto, não deixa de oferecer risco à economia russa a longo prazo.

“Outras regiões querem comprar [o petróleo russo], mas eles também racionalizam, não são bobos e dizem: ‘ninguém quer comprar o seu petróleo. É claro que nós podemos comprar, mas com desconto’”, diz Zubarev.

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De acordo com ele, estudos mostram que o desconto no insumo tem um efeito bastante substancial na economia. “Cerca de 20% de desconto no petróleo pode gerar uma queda de cerca de 1,5% do PIB, isto só por conta do desconto. Isso é bastante coisa”, completa.

Crise no longo prazo

Embora o cenário atual corrobore com o discurso oficial do Kremlin e crie a aparência de que a economia russa está sob controle, análises mais cautelosas indicam que os efeitos das sanções podem ser sentidas no longo prazo.

De acordo com o estudo do “Re: Russia”, um dos principais golpes que o país pode sentir no horizonte é a restrição sobre a importação de alta tecnologia.

“Aqui, as restrições podem afetar a economia por muitos anos. Na Rússia, toda a produção que atende aos padrões modernos é resultado do empréstimo e adaptação de tecnologias e equipamentos mundiais. Se não houver abastecimento, o país ficará em ‘isolamento tecnológico’”, aponta o relatório, citando o ex-chefe do Serviço Federal de Mercados Financeiros da Rússia, Oleg Vyugin.

A competitividade da economia e seu desenvolvimento inovador são determinados, entre outras coisas, por pequenas e médias empresas de alta tecnologia, que representam cerca de 20% do PIB da Rússia. No início de 2022, havia quase 5,9 milhões de pequenas e médias empresas no país, empregando 14,7 milhões de trabalhadores.

Com as sanções aplicadas pela comunidade internacional após 24 de fevereiro, o acesso às mais recentes tecnologias, equipamentos e base de componentes foi severamente afetado, atingindo particularmente o setor de TI. De acordo com várias previsões, o volume do mercado de TI russo em 2022 pode ser reduzido em 39%.

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O economista Andrey Zubarev observa que a continuidade da política de sanções vai gerar sim um maior vínculo da Rússia com países como a Índia e a China. No entanto, o pesquisador ressalta que estes países “não vão conseguir substituir as importações de alta tecnologia que a Rússia recebia da Europa e dos EUA”.

“Eu não acredito que o mais ambicioso dos programas de substituição de importações pode, em 5 ou até 10 anos, levar a Rússia a ser uma economia fortemente competitiva e produzir algo interessante. Não, isso não é possível”, acrescenta.

De acordo com o pesquisador, as sanções não afetaram tão fortemente a Rússia no curto prazo, como era desejado por EUA e UE. Mas seu efeito substancial ainda está por vir, já que “o seu efeito prolongado nós ainda vamos observar pelo menos até o final de 2023. Isso é fato”.

Edição: Arturo Hartmann

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Randoncorp anuncia mudança em sua governança corporativa

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Alex Battistel

A Randoncorp comunicou ao mercado, nesta quinta-feira, 20 de março, que o atual CEO, Sérgio L. Carvalho, deixará de exercer esta função, e a de Presidente e CEO da Frasle Mobility, a partir de 1º de setembro de 2025. Neste novo contexto, Sérgio passará a atuar para a Randoncorp como senior executive advisor, na função de consultoria externa independente. O presidente da companhia, Daniel Randon, irá somar a posição de CEO.

Como senior executive advisor, Sérgio contribuirá no planejamento estratégico da empresa e seguirá membro dos conselhos deliberativos das joint-ventures Master Freios e JOST Brasil.

Sérgio assumiu como CEO da Randoncorp em 2022, focado na internacionalização da empresa, crescimento acelerado e fortalecimento do Comitê Executivo. Durante o período que Sérgio esteve na Companhia, os principais indicadores financeiros, como receita, EBITDA e lucro líquido, aumentaram de quatro a nove vezes. A aquisição de 23 novas empresas desde então posicionou a Randoncorp e a Frasle Mobility de maneira diferenciada no exterior, além de ampliar consideravelmente o portfólio de produtos e a exposição ao segmento de reposição das duas companhias. Sua gestão vem sendo marcada ainda pela ampliação de capacidade das empresas, do portfólio de produtos e pela inovação e tecnologias disruptivas, com foco em materiais inteligentes, eletrônica embarcada e eletromobilidade. Todos esses atributos partem de concepções avançadas mesmo para os países mais desenvolvidos do mundo. A Randoncorp atualmente está presente com seus produtos em mais de 125 países, possui 33 operações industriais e 20 centros de distribuição em dez países.

Frasle Mobility

A partir da nova estrutura, Daniel Randon assumirá a presidência da Frasle Mobility e Anderson Pontalti, atual COO, passará ao cargo de CEO da mesma empresa, respondendo por toda a operação tanto no Brasil quanto no Exterior. Pontalti também segue na posição de EVP (Executive Vice President) Internacional da Randoncorp, respondendo pelas unidades das verticais Autopeças e Montadora nas geografias internacionais, com exceção da América do Sul.

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Cantora italiana é atração da Festa das Colheitas no próximo sábado

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A Festa das Colheitas 2025 chega ao seu último final de semana com uma atração italiana. O próximo sábado (22) terá como destaque o show da cantora e compositora italiana Mafalda Minnozzi. Radicada no Brasil e apaixonada pelo país, ela sobe ao Palco Principal, no Centro de Eventos da Festa da Uva, às 20h.

Antes, na sexta, às 20h, o Grupo Sanfonaço sobe ao palco para um espetáculo que une as influências do Rio Grande do Sul e da Itália. O show promete fazer um resgate às canções que fazem parte da identidade cultural do Sul do Brasil.

No domingo, a diversão será com os icônicos personagens Radicci e Genoveva, obras do cartunista Carlos Henrique Iotti. O espetáculo do Grupo Ueba inicia às 14h, no Palco Principal, e celebra os 150 anos da imigração italiana no Brasil com uma abordagem cômica sobre o cotidiano dos imigrantes. Às 18h, ocorre o último show da programação, com Espedito Abrahão e Os Campeiros.

O Parque de Exposições Mário Bernardino Ramos abre das 14h às 22h, na sexta, e das 10h às 22h no sábado e no domingo. A entrada é gratuita, sendo sugerida a doação de 1 kg de alimento não perecível. O estacionamento custa R$ 20. 

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Ginásio Enxutão será reaberto à comunidade no final do mês

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Cristiano Nunes

O ginásio do Centro Municipal de Esporte e Lazer Professor Joel Bastos de Souza (Enxutão), que passou por melhorias na área interna, incluindo a troca de todo o telhado, reabre à comunidade no próximo dia 28 de março (sexta-feira), às 19h, com evento esportivo.

A reabertura será marcada por dois jogos amistosos de futsal. O primeiro será com times da categoria sub 13, Bella Futsal x Top Sport Futsal. O segundo jogo será com representantes do Poder Executivo e Poder Legislativo.

Com viés social, o evento organizado pela Secretaria Municipal do Esporte e Lazer (SMEL), terá ingresso solidário, pedindo a doação de 1 kg de alimento não perecível por espectador. Os donativos serão encaminhados ao Banco de Alimentos de Caxias do Sul.

A troca do telhado ocorreu com uma verba de repasse federal no valor de R$ 413 mil e uma contrapartida do Município no valor de R$ 85 mil, totalizando um investimento de aproximadamente R$ 500 mil somente na parte do telhado.

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