A prefeitura correu contra o tempo para garantir investimento federal, mas decisão reacende debate sobre promessas de campanha.
A transferência da policlínica de Caxias do Sul para o bairro Sanvitto, anunciada na última sexta-feira (03), provocou descontentamento entre moradores da zona sul da cidade. A medida contraria uma das principais promessas feitas pelo prefeito Adiló Didomenico durante a campanha de 2024: a instalação de uma UPA Zona Sul, estrutura voltada para atendimentos de urgência e emergência.
Na prática, a mudança garante o investimento federal de R$30 milhões e a construção da unidade, mas deixa em aberto a demanda histórica da região sul por um serviço de saúde mais próximo e completo.
De UPA a policlínica: a virada de rota do projeto
Inicialmente, a promessa era de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para a zona sul. No entanto, o Ministério da Saúde não abriu novas linhas de investimento para esse tipo de equipamento em 2024, priorizando a construção de policlínicas.
Para não perder a oportunidade de captar recursos, a prefeitura adaptou o projeto e escolheu uma área na Avenida Dr. Assis Antônio Mariani, no bairro São Caetano, para a obra. A mudança agradou parte da comunidade, que, mesmo sem o atendimento de urgência, comemorava a chegada de um grande centro de exames e especialidades.
“Mesmo que não fosse UPA, a policlínica já seria um avanço. Teríamos um equipamento de saúde de referência perto de casa”, afirma Rosalina Lima, presidente da Associação de Moradores do bairro Esplanada.
Questões técnicas e corrida contra o relógio
A virada de endereço, no entanto, envolveu uma série de questões técnicas e uma corrida contra o tempo. Após o anúncio do investimento, o Ministério da Saúde suspendeu novos repasses para policlínicas em todo o país, mantendo apenas o projeto de Caxias por já estar em fase adiantada.
O terreno do São Caetano, apesar de disponível, exigia licenciamento ambiental complexo, pois parte da área possuía vegetação densa e corte de árvores. Além disso, o projeto precisaria ser modificado, o que atrasaria a assinatura do convênio.
Segundo o coordenador de Relações Comunitárias da prefeitura, Elói Frizzo, o prazo final para garantir o investimento era até sexta-feira (3):
“Havia risco real de perdermos o recurso. A alternativa no Sanvitto já estava regularizada e dentro das exigências do Ministério”, explicou.
Investimento garantido, confiança abalada
Com a mudança, Caxias do Sul assegura o investimento e mantém o projeto dentro do cronograma federal. No entanto, a comunidade da zona sul se sente novamente deixada de lado e cobra da prefeitura novas garantias.
O governo municipal promete construir uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no Monte Carmelo, mas moradores dizem que a medida não supre a promessa original:
“O bairro precisa de um centro de urgência, não só de consultas e exames. Vamos continuar longe do atendimento que foi prometido”, resume Rosalina.
O que está em jogo
Por trás da decisão, está um dilema recorrente entre promessas eleitorais e viabilidade técnica. A mudança da policlínica expõe como a burocracia, os prazos federais e o licenciamento ambiental podem redefinir o destino de obras públicas e reacende o debate sobre planejamento e transparência na gestão municipal.
Enquanto o investimento federal está garantido, a confiança da comunidade ainda aguarda reconstrução.
Por: Henrique Barbosa