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Por que dobrou o número de trabalhadores imigrantes resgatados do trabalho escravo no Brasil?
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2 anos atrásem

Em 2021, a Divisão para Erradicação do Trabalho Escravo registrou 74 resgates; no ano passado, foram 148 casos
Na semana passada (segunda-feira, dia 20), uma operação conjunta da Polícia Federal (PF) e da Superintendência Regional do Trabalho no Rio de Janeiro resgatou 19 trabalhadores paraguaios em situação análoga à escravidão em uma fábrica clandestina de cigarros de Duque de Caxias (RJ). Os trabalhadores relataram à PF que foram trazidos ao Brasil com os olhos vendados.
Esse não foi um caso isolado. O número de trabalhadores imigrantes resgatados da escravidão contemporânea dobrou no Brasil, segundo o Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho no Brasil.
Em 2021, a Divisão para Erradicação do Trabalho Escravo registrou 74 resgates. No ano passado, foram 148 casos. Exatamente o dobro. Os dados geram alerta para quem atua diretamente com essa população vulnerável.
“Esses dados já eram completamente esperados e são resultado de mudanças, transformações e um conjunto de omissões que aconteceram nos últimos anos”, pontua Luís Felipe Aires Magalhães, Professor de Ciências Econômicas da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Em fevereiro, um grupo de 24 trabalhadores venezuelanos foi resgatado de condição análoga à escravidão em Rio do Sul, Santa Catarina, pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT). Eles trabalhavam na construção de galpões e alojamentos.
Acompanhados das famílias, os venezuelanos viviam sem cozinha, colchões ou água suficiente, de acordo com o Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM). Dois bebês recém-nascidos, com 4 dias de vida, e outros menores de idade também foram retirados do local.
‘‘Esses trabalhadores vieram pro Brasil em busca de uma condição melhor de trabalho. Por estarem em território nacional eles devem e tem direito a receber o mesmo tratamento de um trabalhador nacional”, alerta Mauricio Krepsky, Chefe da Divisão de Fiscalização para a Erradicação do Trabalho.
Operação Acolhida
Os venezuelanos resgatados chegaram em Santa Catarina por meio da Operação Acolhida, carro chefe da política migratória durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Alguns já estavam havia 4 anos no Brasil.
Apenas nessa operação, foram resgatados quase metade do total de 58 trabalhadores encontrados em situação análoga a escravidão no estado de Santa Catarina no ano anterior, 2022.
Para Mauricio Krepsky, uma das falhas da força-tarefa coordenada pelo Governo Federal com o apoio do ACNUR, é não monitorar com efetividade o destino dos venezuelanos após a chegada ao Brasil, durante o processo de interiorização.
Imigrantes da etnia Warao, da Venezuela, em abrigo na cidade de Pacaraima, em Roraima / Luis Robayo/AFP
“Houve dois casos de empresas que submeteram trabalhadores a trabalho escravo tendo sido trazidos lá da fronteira, através da Operação Acolhida. Foram dois casos em São Paulo e o mais recente em Santa Catarina. Isso já deveria ser motivo para os integrantes da operação terem um maior cuidado na análise das empresas que estão solicitando essas vagas de emprego”, alerta Krepsky.
Em 2022, a Operação Acolhida atingiu a marca de 84.463 venezuelanos alocados em 887 municípios brasileiros, sendo os três estados do Sul os líderes. Só para Santa Catarina foram recebidos 16.140 venezuelanos. Para este ano, o orçamento previsto para a operação é de R$ 252 milhões.
Frigoríficos e avanço do capital
O professor da UFABC Luís Felipe Aires Magalhães acredita que a operação Acolhida pode ser lida como uma vitória do dinheiro sobre o ser humano, com uma gestão militar no recrutamento desta população venezuelana.
“É inegável que nós tivemos durante esses quatro anos uma opção pela militarização da gestão migratória em detrimento da criação de oportunidades. Se nós tivéssemos um investimento social, educacional, em termos de saúde e infraestrutura, nós poderíamos ter criado cidades fronteiriças com condições de acolher imigrantes. Mas não, os recursos foram direcionados à gestão militar da migração. As cidades que eram pequenas, que eram vulneráveis, permaneceram pequenas e vulneráveis”, pontua Magalhães.
“Não existe acompanhamento do estado a partir do momento em que a operação acolhida leva o imigrante venezuelano para uma cidade do interior. Toda tutela e controle exercidos pelo estado se encerram. E é justamente nesse momento onde começam as violações e as formas mais precárias de condições de trabalho.”
“E nisso atuam não só empresas pequenas, como também grandes empresas. Nós temos grandes cadeias, especialmente da indústria de alimentos, especialmente dos frigoríficos, que se beneficiam dessa tutela que o estado exerce sob a migração. Todos nós pagamos por uma atividade de recrutamento exercida pelo estado a serviço das empresas privadas”, completa.
Paraguai lidera
Apesar de se observar um aumento no resgate de venezuelanos: 14 pessoas em 2022, a nacionalidade campeã de resgates foi a paraguaia, com 101 vítimas. Além de cidadãos dos dois países, foram resgatados em 2022 pela Inspeção do Trabalho, 25 bolivianos, quatro haitianos e quatro argentinos.
Entre os paraguaios, os principais fluxos migratórios acontecem hoje nas regiões fronteiriças, especialmente no Mato Grosso do Sul, estado que concentrou no ano passado 40% do total de pessoas resgatadas do trabalho escravo contemporâneo.
“Nos casos de resgate que nós tivemos no ano passado de trabalhadores paraguaios alguns inclusive foram em cidades como Iguatemi (MS). E é muito curioso que são regiões de um território que já foi disputado por esses dois países, né? E que o Brasil acabou anexando depois do fim da guerra do Paraguai. Eu acho que são dados que mostram muito a proximidade entre esses dois territórios”, explica o pesquisador do Observatório das Migrações em São Paulo, Paulo Mortari Araújo Correa.
Apenas em dois meses e 10 dias de 2023 já foram encontradas 291 pessoas em situação semelhante ao trabalho escravo no estado / Foto: MPT/RS
Segundo Mortari, os migrantes paraguaios que trabalham nas fronteiras e regressam após o trabalho temporário são chamados de “andorinhas”.
As migrações deste grupo social, na opinião do pesquisador, estão relacionadas à própria realidade agrária no país vizinho, que passa por um processo atenuado de “latifundiarização” . No censo de 2012, 60% da população do país vivia em áreas urbanas – uma média muito pequena em relação a outros países latino americanos.
“É um modelo que tem como um elemento constitutivo a própria ideia de expulsão das populações no fim das contas. São propriedades que vão se expandindo sobre áreas de pequenos agricultores, terras indígenas, e vão de alguma forma fomentando esse deslocamento”, pontua.
‘As pequenas propriedades vizinhas aos latifúndios são frequentemente afetadas até hoje pelos processos de fumigação de agrotóxicos nas plantações e isso acaba atingindo comunidades, escolas. É um fator que se soma a essa discussão”, acrescenta.
Origens da precarização
Em 1 de janeiro de 2019, primeiro dia do governo de Jair Bolsonaro, o Brasil saiu oficialmente do Pacto Global das Migrações da ONU. A medida reduziu o nível de responsabilidade do estado brasileiro com os estrangeiros que entrassem no pais.
Na opinião de Luís Felipe Aires Magalhães, quando se fala em trabalho precarizado entre migrantes, é preciso colocar a importância da documentação. Dentre os 23 vetos do então presidente da república, Michel Temer, à nova lei de migração de 2018, estava a de anistia para estrangeiros.
A medida possibilitaria a documentação em massa de todos os migrantes e refugiados que entrassem no país até 6 de julho de 2016.
‘É muito mais plausível que essa violação, essas condições de trabalho análogo se criem, se reproduzam em contextos de falta de documentação. Então, historicamente isso traz dificuldade de cidadania, acesso aos serviços de saúde, educação e traz também trabalho precário. Então, quando nós falamos de trabalho precário, nós temos que falar necessariamente de cidadania, de documentação”, alerta Magalhães.
“Quando nós falamos que as condições de documentação não melhoraram, nós temos as digitais do ex-presidente Temer. Nós temos as digitais na criação de uma condição migratória mais vulnerável que coloca as pessoas de mãos beijadas para múltiplas modalidades de superexploração, de violação e de trabalho análogo à de escravo”, completa.
Um outro ponto para explicar a precarização das relações laborais para migrantes no Brasil é a reforma trabalhista de 2017.
Para Magalhães, a medida acentuou as formas de aliciamento, pois impôs uma nova característica aos recrutamentos: eles passaram a ser feitos pelos aliciadores cada vez mais nas regiões de origem, e não somente nas metrópoles, como a cidade de São Paulo.
“É importante para o recrutador e para o aliciador fazer um recrutamento na região de origem, porque ele já consegue estabelecer uma dívida formal de trabalho por pagar o deslocamento da origem para o local de trabalho aqui no Brasil. Então o que nós acompanhamos com os paraguaios, como também com os bolivianos em outros momentos é justamente essas transformações”, pontua o professor da UFABC.
Segundo a Inspeção do Trabalho, nos últimos 10 anos, cerca de 6% das pessoas resgatadas da escravidão contemporânea no Brasil são imigrantes.
“É inegável que os espaços de acolhimento para migrantes, sejam eles do poder público ou da sociedade civil se concentram nos centros urbanos. A gente precisa superar essa lógica metropolitana e compreender que as migrações hoje não são como eram há quinze, vinte anos atrás”, diz Magalhães.
“Elas são menos metropolitanas do que a gente supõe. Elas são migrações mais interioranas em cidades pequenas e médias. Porque é pra lá que estão as atividades econômicas, inclusive as atividades econômicas ilegais, como por exemplo o garimpo e o tráfico de drogas. É pra lá que essas atividades se deslocaram nos últimos anos”, finaliza ele.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
MAIS DESTAQUES

O Ministério da Fazenda apresentou nesta quinta-feira (13) projeções macroeconômicas para o país em 2025. De acordo com a pasta, a inflação da alimentação deverá ceder até o fim do ano e apresentar recuo principalmente em razão de um cenário climático melhor, de safras recordes, e do fim da reversão do ciclo do abate de bovinos.
“A gente está vendo que, por exemplo, uma safra muito favorável de soja, uma safra muito favorável de arroz e feijão, vai ajudar [a conter] os preços de cereais, leguminosas, derivados da soja. Estamos vendo também que, a partir de março, a projeção é de neutralidade climática, o que tende a ajudar o preço de frutas e hortaliças, entre outras”, destacou a subsecretária de Política Macroeconômica, Raquel Nadal.
Carne
O comportamento do preço da carne em 2025 terá um papel central no resultado da inflação da alimentação. O preço do produto deverá desacelerar em razão do fim da reversão do ciclo do abate – período em que as vacas são destinadas ao abate, após a retenção delas para procriação e a entrada dos bezerros no mercado – que aumentará a oferta de animais para o mercado.
Foto: Marcelo Camargo
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Projeto Cinema Itinerante Acessível ocorrerá gratuitamente na Apae em Caxias do Sul
Publicado em
12 horas atrásem
14/02/2025
O Projeto Cinema Itinerante Acessível permite que todas as pessoas, incluindo aquelas com deficiência visual, auditiva, intelectual e física, possam desfrutar plenamente das obras cinematográficas brasileiras. A Apae terá exibição de dois filmes, em sessões gratuitas e abertas ao público em geral, em Caxias do Sul.
O projeto utiliza recursos essenciais para a inclusão, como audiodescrição, legendas descritivas, interpretação em Libras e adaptações cognitivas. Além de democratizar o acesso à cultura, a mostra também busca sensibilizar o público e a indústria sobre a importância da inclusão, incentivando a produção de conteúdos mais acessíveis e promovendo espaços culturais verdadeiramente acolhedores para todos.
Programação das Sessões:
26/02 (quarta-feira), às 9h – Exibição do filme A Ilha dos Ilus, na Apae Cinquentenário;
14/03 (sexta-feira), às 14h – Exibição do filme Mau nome é Daniel, na Apae Centro Ocupacional Santa Rita.
O Projeto Cinema Cinema Itinerante Acessível é uma produção da Varsóvia Educação e Cultura, em parceria com o Sesc Caxias do Sul. A realização é da Prefeitura Municipal de Caxias do Sul, através da Secretaria de Cultura, com recursos da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura e do Governo Federal – Brasil, União e Reconstrução.
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Exposição em LED marca a segunda fase do Caxias Soul Duetos – 10 anos
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12 horas atrásem
14/02/2025
A segunda fase do Caxias Soul Duetos, circuito de arte e música, é a exposição interativa “Arte, tecnologia e interatividade em harmonia”, com duração até o dia 19 de fevereiro, no Ponto Coletivo, em Caxias do Sul (RS).
Inspiradas na inovação e no potencial das conexões humanas, cerca de 20 luminárias em formato de tubo LEDs com LED RGB digital são protagonistas de um ambiente interativo e imersivo. Os sensores de presença captam os movimentos dos visitantes, com cores, formas e efeitos luminosos se transformando em tempo real e tornando cada pessoa parte ativa da obra.
Para o criador da exposição, Samuel Antoniazzi, diretor da Otilla Iluminação e Aero Audiovisual, a interação é o coração da exposição. “O público não é apenas espectador, mas agente transformador. Cada passo, cada gesto desencadeia uma nova onda de luz e movimento, mostrando que a arte não é estática, mas viva e conectada à energia de quem a experimenta”, aponta.
Para o idealizador do projeto, Jorge de Jesus (DJ Mono), a popularização da arte e o acesso às tecnologias é essencial na formação de público para projetos como o Caxias Soul Duetos. “Ações como essa permitem democratizar a cultura e permitir que mais pessoas se conectem com novas formas de expressão. Essa exposição interativa mostra como a tecnologia pode ampliar as possibilidades artísticas, criando novas dinâmicas de interação. Apoiar os artistas é investir nesse movimento, fortalecendo a criatividade e tornando a arte cada vez mais acessível e transformadora.”
Junto a essa experiência, também estão expostas imagens referentes a shows realizados pelo projeto Caxias Soul Duetos, com curadoria da fotógrafa Liliane Giordano. São seis fotografias de autoria de Edson Pereira e Tatieli Sperry, impressas em tecido, referentes a shows realizados pelo projeto em 2014, 2015 e 2024, celebrando seus dez anos de existência, acompanhadas por uma trilha sonora feita especialmente para a ocasião e assinada pelo músico Beto Scopel. Todas as imagens estão disponíveis com audiodescrição, por meio de um QRCode localizado junto à obra, por Débora Haupt Audiodescrição.
A entrada é gratuita. A visitação pode ser realizada de quarta-feira a sábado, das 17h às 23h. O Ponto Coletivo fica na Rua Andrade Neves, 573, Bairro Exposição.
Foto: Liliane Giordano

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